sexta-feira, 7 de junho de 2013

Gleisi sai da toca do Planalto

De olho numa candidatura em 2014 ao governo do Paraná, a ministra-chefe da Casa Civil se torna a "cara" do governo Dilma, sai em defesa dos projetos do Planalto e enfrenta sua primeira crise com o Congresso

Por Denize BACOCCINA
Desde que trocou o Senado pela Casa Civil, há dois anos, a paranaense Gleisi Hoffmann saiu pouco de seu gabinete, no quarto andar do Palácio do Planalto, com uma ampla vista para o Lago Paranoá. Em longas jornadas que começam por volta das nove da manhã e dificilmente acabam antes das dez da noite, ela se reúne com técnicos, secretários e ministros de outras pastas, além de acompanhar a maior parte das audiências da presidenta Dilma Rousseff. A Casa Civil, comandada por Gleisi, é a última parada do longo processo de filtros até que um assunto seja levado à mesa da presidenta. Nas últimas semanas, por ali passou também uma parte da crise entre o Planalto e o PMDB, principal partido da coligação que elegeu Dilma e legenda dos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, e responsável pela dificuldade na votação, no Congresso, de matérias importantes para o governo.
 
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Gleisi Hoffmann, depois de atrito com Renan Calheiros: "Na rotina política,
tensão e calor nos debates são normais" 
 
Com medo do fogo amigo que costuma chamuscar os ministros que se expõem, Gleisi sempre aparecia ao lado de Dilma nas cerimônias no Planalto, mas preferia se manter calada. Em maio, com a possibilidade de fracasso na votação da MP dos Portos, a ministra da Casa Civil, senadora eleita com mandato até 2018, foi convocada a socorrer a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a tentar domar a base aliada. Coube a ela falar com senadores, deputados e também com a opinião pública. Contrariando o silêncio dos dois anos anteriores, não se furtou a defender a posição do governo. Importantíssimo para a modernização da logística e a redução dos custos de produção das empresas brasileiras, o projeto quase foi totalmente desfigurado. 
 
“O debate ficou muito ensimesmado”, disse a ministra à DINHEIRO. “A discussão ficou muito centrada no sistema portuário, nos interesses envolvidos no setor, quando deveria ter sido sobre o que ela significa para o País.” Na quinta-feira 5, também coube a Gleisi explicar os dez pontos vetados por Dilma na lei aprovada em meados de maio. “Todos os acordos com o Congresso foram cumpridos”, afirmou. “Os vetos buscam garantir o objetivo principal da medida, que é reduzir os custos logísticos e aumentar a competitividade da economia brasileira.” Oficialmente, o governo diz que Gleisi se envolveu diretamente com as medidas em tramitação no Congresso, porque ela tem domínio técnico sobre os assuntos. 
 
Mas essa não é a única razão para a maior exposição pública da ministra-chefe da Casa Civil, que é casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e tem dois filhos pequenos, os quais já não consegue levar pessoalmente à escola. Além de se assumir, com o aval da presidenta Dilma, como a “cara” do governo federal, Gleisi precisa manter seu nome em evidência junto ao eleitorado do Paraná, já preparando o terreno para disputar o governo do Estado, em 2014. Provável candidata do Partido dos Trabalhadores, no qual ingressou em 1989, ela deve entrar numa disputa acirrada com o atual governador, Beto Richa (PSDB). Ativa nas redes sociais, através de perfis alimentados por uma equipe de comunicação, ela tem mais de 35 mil seguidores no Twitter.
 
A batalha dos portos já está ganha, mas outras ainda serão travadas – no Congresso e dentro do próprio Executivo. No legislativo, o próximo embate é a aprovação do código de mineração, que será enviado não como medida provisória, mas como projeto de lei. O governo também quer destinar à educação todos os recursos dos royalties do petróleo do pré-sal. A mudança no modo de tramitação já alivia um dos focos de tensão com o Congresso, que reclama de ser tratado como se fosse um mero anexo do Executivo. A cobrança para que o Senado votasse, poucos dias antes do prazo final, uma medida provisória para evitar o aumento da conta rendeu uma saia justa com o presidente do Senado, Renan Calheiros. 
 
Ele não só desligou o telefone na cara da ministra como vazou a conversa para a imprensa. Gleisi tentou deixar o assunto morrer, mas acabou respondendo dias depois, afirmando que a conversa entre os dois havia sido “respeitosa”. “Na rotina de negociações políticas são normais momentos de tensão e de calor nos debates”, disse a ministra. Apesar dos traços delicados e do visual impecável, Gleisi comanda a pasta com mão de ferro. A agenda é pesada e variada. Pode ter sete ou oito audiências com empresários, lideranças empresariais, políticos ou colegas do governo. Ou três ou quatro reuniões longas, sobre assuntos específicos, como o caso de quinta-feira 7. Depois de participar do anúncio do plano de financiamento da agricultura familiar, ela recebeu políticos de Rondônia e fez duas reuniões sobre portos e segurança na Copa do Mundo.
 
Gleisi não grita nem destrata os subordinados, mas é dura nas cobranças. “E aí, você fez o que para resolver?”, diz com frequência quando ouve de um auxiliar, ou mesmo de outro ministro, que determinado assunto está emperrado. “Ela não gosta de esperar, vai atrás para tentar resolver”, diz uma pessoa da equipe. É ela quem tem a função de coordenar os demais ministérios e fazer os projetos andarem. A Secretaria de Aviação Civil, por exemplo, foi entregue ao ministro Wellington Moreira Franco, ligado a Temer, mas é acompanhada com lupa pela ministra. Outra atribuição é a interlocução com o setor privado. “Temos um diálogo muito transparente, claro, objetivo”, diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. “Ela diz exatamente até onde pode chegar e joga muito limpo.” 
 
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